Os Ladrões e Roubadores de 1 Coríntios 6:10

 Não erreis: nem os devassos, nem os idólatras, nem os adúlteros, nem os efeminados, nem os sodomitas, nem os ladrões, nem os avarentos, nem os bêbados, nem os maldizentes, nem os roubadores herdarão o reino de Deus. 1 Coríntios 6:10 (RCF)

Introdução

O texto a ser estudado, se encontra em 1 Coríntios 6:10, mais precisamente, ladrões e roubadores a que Paulo se refere. O incorreto é tentar encontrar um propósito pessoal no qual o capitulo 6 foi
escrito, já que o mesmo foi escrito para os de Corinto. Sendo assim, há a necessidade extrema de adentrarmos aos conceitos da época em relação à ocasião e objetivo, para nos determos à verdade contida aqui; como também, o uso da grega, para as palavras adjacentes em pauta, levando em consideração à gramática e o contexto em suma.

1.      Propósito

Quando Paulo escreve o verso 10 do capitulo 6 de Coríntios, ele escreve com um único propósito, mostrar que os tais relacionados às funções pecaminosas contidas no verso, não podem ser salvos, mas do que é que ele estava falando a final?

A primeira carta aos coríntios foi escrita em Éfeso, em 57 d.C aos moradores da cidade de Corinto, onde havia fundado uma igreja. Na verdade é uma carta resposta, pois ele recebeu relatórios perturbadoras sobre a complacência moral existente entre os crentes de Corinto. Para remediar a situação, ele enviou uma carta à igreja (1Co 5:9-11), que depois se perdeu. Pouco depois, uma delegação enviada por Cloe, membro da igreja em Corinto, fez um relatório sobre a existência de facções divisórias na igreja. Antes que pudesse escrever uma carta corretiva, chegou outra delegação com uma carta lhe fazendo perguntas (1 Co 7:1; 16:17). Nisso, Paulo enviou a Timóteo para ajudar os irmãos de Corinto (1Co 4:17). Então, escreveu a carta de 1 Coríntios, esperando que a mesma chegasse antes de Timóteo (1Co 16:10). Talvez Tito fosse um dos irmãos portadores desta epistola (1 Co 16:12).

A primeira epístola aos Coríntios não é apenas uma carta na qual o apóstolo Paulo ministra conselhos e instrução sobre assuntos de importância da fé e do comportamento cristão; também jorra luz reveladora sobre determinados problemas com os quais se defronta uma jovem igreja não muito depois de sua inauguração. O apóstolo Paulo havia levado a mensagem de Cristo à cidade de Corinto quando realizou sua segunda viagem missionária. Esta cidade constituía um tremendo desafio ao evangelho já por tratar-se de um grande centro cosmopolita de comércio do mundo antigo, e por ser reconhecido como centro de libertinagem e desregramentos. Ali, começou a surgir entre os crentes graves erros de doutrina e de conduta. A primeira carta aos Coríntios destina-se à correção desses erros.

Existem sete pontos absolutos, pelo qual Paulo escreveu 1 Coríntios, porém vamos resumir apenas três: Em primeiro lugar, haviam surgido deploráveis divisões na igreja; em segundo lugar, um de seus membros era culpado de grosseira imoralidade, um tipo de imoralidade que até mesmo aquela sociedade licenciosa e dissoluta teria condenado; a despeito disso, a congregação de crentes não havia disciplinado o ofensor nem o havia expulsado da comunhão; em terceiro lugar, os membros daquela coletividade cristã denunciavam-se uns aos outros perante tribunais pagãos, aos quais recorriam para solucionar pendências que surgiam entre eles, em vez de resolverem suas dificuldades no espírito do amor cristão dentro da igreja. Daí o propósito do capitulo 10, Paulo escreve desaprovando os litígios dos irmãos em tribunais pagãos.

Quando algum de vós tem litígio contra outro, como é que se atreve a pedir justiça perante os injustos, em vez de recorrer aos {irmãos} santos? 1 Coríntios 6:1

Digo-o para confusão vossa. Será possível que não há entre vós um homem sábio, nem um sequer que possa julgar entre seus irmãos? 1 Coríntios 6:5

Nisso, quando Paulo escreve o 1 Co 6:10, ele está falando de coisas que antes eram naturalmente dos irmãos de Corinto. Basta lermos o verso 9, 10, 11, e o 12, e vamos notar que Paulo esta falando que nem os nem os adúlteros, nem os efeminados, nem os devassos e etc., podem herdar o Reino, e continua dizendo: Ao menos alguns de vós têm sido isso. Mas fostes lavados... Ou seja, foram isso antes de serem lavados (ARA), e conclui no 12: “Tudo me é permitido, mas nem tudo convém”; em miúdos: Eu poderia fazer tudo isso, mas não compensa. Então 1 Co 6:10, está falando de “características”, cujos irmãos de Corinto, tinham antes da conversão, sendo um alerta de Paulo, para não voltar a ser assim, pois os tais não serão salvos.

2.      Definição de Ladrão e Roubador

a)      Ladrão

A palavra ladrão, a que se refere Paulo, vem do grego, kleptes, que significa bandido, defraudador, arrombador. Kleptestem uma ligação grega com lestes, que é um bandido, um malfeitor. Quando Paulo escreve que nem os ladrões herdarão o Reino, ele esta falando que os Coríntios, que deixaram essa prática e foram lavados, não devem voltar a fazê-lo, para não perderem a salvação, kleptes ou ainda lestes (outra definição grega), se refere a um bandido, mau caráter, característica bem notada pela sociedade, como os publicanos (Mc 2:16), ou ainda Judas Iscariotes (Jo 12:6).

A cidade de Corinto atraia os negociantes fenícios que ali iam buscar material com que fabricavam a cor púrpura, que eles tiravam dos peixes que povoavam os seus mares, introduziram a manufatura de panos, de cerâmica e de armas de guerra, e juntamente estabeleceram os cultos impuros das divindades fenícias. Eram comerciantes inimigos da guerra, dados a luxuria e a licenciosidade. A sua vida era tão imoral, a ponto de dar origem e formação de um verbo expressivo das qualidades condenáveis, o verbo corintinizar. Daí vem à palavra ladrão, pessoa bandida, mau caráter, defraudador, arrombador de portas, invasor de estabelecimentos, características bem visíveis pela sociedade.

b)     Roubadores

Para roubador, Paulo utiliza a palavra grega, harpaks, que significa; ávido, voraz, extorsão, rapina. Ou seja, roubador seria alguém insaciável, que devora o que conseguiu (roubou), através de violência, ou ainda uma exação violenta de contribuições forçadas.

Sendo assim, o roubador a que Paulo se refere, diferente do ladrão que “apenas” rouba violentamente sendo caracterizado pela sociedade como bandido, harpaks, além de roubar violentamente, destrói tudo o que roubou de maneira insaciável, continuando uma vida miserável, diferente de ladrões da politicagem do império vigente do novo testamento, que enriqueciam mais e mais.  Por isso a palavra roubador, é substituída pela NVI (Nova Versão Internacional), por trapaceiro, e pela VC (Versão Católica), por assaltantes, caracterizando como ladrões indiscretos, salvo a distinção no grego.

A sociedade de Corinto, continha ambos, e como a igreja era composta de convertidos dessa sociedade, o que Paulo queria era livrá-los do velho homem, por isso em sua segunda carta ele escreve: Assim que, se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo. 2 Coríntios 5:17

Conclusão

Quando Paulo fala sobre ladrões e roubadores em 1Co 6:10, ele não está falando de coisas que os irmãos estavam cometendo, mas de coisas que eles cometiam antes da conversão, alertando-os para não voltarem às mesmas práticas, práticas que surgiriam a partir do ponto em que a igreja começasse a se associar aos ímpios em relação aos litígios levados aos tribunais coordenados por injustos (1Co 6:1). Os ladrões eram os bandidos ricos e notados socialmente, e os roubadores eram os mesmos bandidos notados socialmente só que pobres, ou miseráveis, por não administrar o que roubou. Ou seja, a escória da sociedade.

Claudio Martins