Quem Alimentou Elias a Final?

Introdução

Uma passagem muito bem conhecida pelos cristãos, como também pelos pregadores em geral. Quem nunca ouviu uma mensagem a respeito desse episódio; "Elias alimentado pelos corvos". Todos já
ouvimos, pois muitos pregaram e ainda pregam essa passagem, mas o que os pregadores não falam, pois ainda não sabem, é que os corvos que alimentaram Elias, provavelmente não eram os corvos que conhecemos, na verdade nem eram corvos. Mas como assim, se na Bíblia está escrito a palavra "corvos"?

"E há de ser que beberás do ribeiro; e eu tenho ordenado aos corvos que ali te sustentem". 1 Rs 17:4

Crer acima de tudo

Não quero com esse estudo, banalizar a passagem desfigurando a providencia de Deus para com o profeta. Não quero faze-los, desacreditar no poderio de Deus. Deus é todo poderoso, se ele quisesse mandar um pernilongo alimentar Elias, isso aconteceria, pois para ele nada é impossível. A crença em Deus, vai muito além de meros estudos. Deus é.

Entendendo um pouco

Elias era profeta, e como profeta de Deus, tinha que ser zeloso, cumpridor das leis, deveria levar a sério todas as 613 leis da torá. E uma das leis era, ter por abominação, alguns animais, e dentre eles está, o corvo.

Das aves, estas abominareis; não se comerão, serão abominação: a águia, e o quebrantosso, e o xofrango, E o milhano, e o abutre segundo a sua espécie.

Todo o corvo segundo a sua espécie. Lv 11:13-15

Bom então o que alimentou Elias não poderia ser um corvo, já que o mesmo deveria ser tido como imundo segundo o mandamento do Senhor, correto? Não! Está no texto, imundo para comer, não tem nada a ver a questão, alimentar um profeta. Até porque Deus usou uma jumenta, que segundo a lei também era um animal imundo, para falar com Balaão. É algo bem mais além.

Os massoretas

 A Bíblia original, mais conhecida por Torá, foi escrita na época de Moisés, cerca de 3300 anos atrás. Sua escrita original foi feita no hebraico "clássico". O hebraico "clássico", diferente do contemporâneo, não utiliza vogais, tornando-a foneticamente, impronunciável. Com o passar do tempo, o hebraico já não era um idioma popular e havia, principalmente por parte da comunidade hebraica muita dificuldade em pronunciá-lo corretamente, conforme a pronúncia original. Foi aí que surgiram os massoretas.

Os massoretas, eram escribas judeus que se dedicaram a preservar e cuidar das escrituras que atualmente constituem o Antigo Testamento. Os mesmos foram substituídos pelos escribas, por volta do ano 500 até ao ano 1000.

O termo massoretas, vem do hebraico "messorah", que significa "tradição"; logo os massoretas eram os incumbidos de preservar a tradição.

Para se produzir um códice manuscrito massorético, era comum a utilização de três pessoas para cada função:  o primeiro escrevia o texto consonantal, o segundo colocava os sinais de vocalização e os sinais de acentuação e o terceiro colocava as anotações da massorá. Tal era a prática por volta da época dos massoretas, mas, posteriormente, uma única pessoa podia ser responsável por tudo.  Este escriba, encarregado pelas três funções, recebia, normalmente, o nome de “massoreta”.

Quem alimentou Elias?

Mas o que o massoreta tem a ver com Elias? Veja bem. Na bíblia, em 1 Rs 17:4 mais precisamente, encontramos a palavra corvos, quem em hebraico, seria "orbim", é escrito na língua hebraica assim: עורבים. Mas essa escrita também é utilizada para a palavra "árabe", que seria "orebim". No hebraico "clásico", sem consoantes, a palavra é a mesma, que diferenciou uma da outra, separando corvo de árabe, foram os massorétas, graças a um sistema de pontuação inventado para atender a acentuação vocálica. Quando os massoretas encontraram a palavra עורבים, na assagem de Elias, eles naturalmente colocaram os sinais vocálicos, com o texto em maos, tanto a vulgata, quanto a septuaginta, entenderam que seriam corvos e não árabes. Nisso fica bem claro que quem alimentou Elias nao foram os orbins, corvos, mas os orebins, árabes. Mas como provar isso?

Lugar e povo

Vamos entender melhor. Na geografia de Israel, existia uma grande extensão baixa que se estendia do Mar da Galileia, indo pelo vale do Jordão, para além do Mar Morto, até o Golfo de Acaba. Essa extensão era conhecida como, Arabá. Os habitantes ou comerciantes que viviam na região de Arabá, eram conhecidos como árabes, que em hebraico eram os orebins. Na carta geográfica, Querite, para onde o profeta Elia foi enviado, ficava entre o Mar da Galileia e o Mar Morto, ou seja, dentro de Arabá. E os habitantes de Arabá eram quem? Os árabes, ou seja, os orebins. Então quem alimentou a Elias não foram os orbins, corvos, mas sim os orebins, árabes.

Portanto, a chance de um erro transliteração e tradução da Bíblia é muito grande, pois, dado que o que diferenciava orbim de orebim eram apenas os sinais massoréticos.

Conclusão

Não que Deus não poderia usar corvos para alimentar um profeta, mas não podemos descartar a hipótese de que Elias provavelmente recebeu alimento de um povo que vivia ou transitava naquela região, e de fato foram usados por Deus para a provisão diário de pão e carne. Porém vale ressaltar, que não importa o meio pelo qual Deus supriu o profeta, mas que Deus supriu, com seu poder e misericórdia.

Claudio Martins